Cartas entre paredes antigas

Quando comecei a reformar a casa dos meus avós, não esperava encontrar vestígios tão vivos de sua história.

Entre as tábuas soltas do assoalho do sótão, achei um pequeno envelope amarelado por décadas. Dentro, havia cartas trocadas entre meus tios-avôs durante a guerra, escritas com cuidado e expectativa, revelando sentimentos e medos que nunca ouvira contados.

Mas o que mais me surpreendeu não foram as palavras, e sim as falhas entre as linhas: mensagens interrompidas, datas que não batiam e nomes omitidos. Aquilo virou um quebra-cabeça familiar que até hoje não consegui montar completamente.

Às vezes, sento na cadeira velha do sótão, lendo essas cartas, sentindo a presença de vozes que o tempo quase apagou. Apesar da distância, existe uma intimidade profunda nesses fragmentos, uma janela para vidas entrelaçadas por amor, silêncio e também pelo segredo.

Não pretendo contar essa história para ninguém, pois parte de sua beleza está no mistério que convida à imaginação. Minha família é um livro aberto e fechado ao mesmo tempo, onde a verdade se esconde entre folhas gastas e suspiros antigos.

Assim, deixo que essas cartas sejam um lembrete silencioso: nem toda história precisa de resposta, às vezes basta existir, sussurrando entre paredes velhas o que só o coração pode compreender.