O Som Invisível da Floresta

As primeiras horas da manhã traziam consigo um eco sutil, quase imperceptível, que permeava a densa floresta de araucárias no sul do país.

Marcelo, um músico urbano cansado do ritmo frenético da cidade, decidiu passar uma temporada ali para tentar captar sons naturais que pudessem inspirar suas composições.

Ao contrário do que esperava, o silêncio predominava, não um silêncio vazio, mas uma presença sonora que desafiava a sua percepção. Ele passou dias sentado entre as árvores, com um gravador, tentando captar o tal "som invisível" que sentia, mas nada nas ondas sonoras parecia diferente.

No entanto, uma sensação de harmonia crescente o invadia, algo que não se traduzia em barulho, mas num equilíbrio silencioso entre vento, folhas e a própria luz filtrada pelas copas. Marcelo percebeu que o que buscava não era um som para registrar, mas uma experiência para sentir.

Numa tarde enevoada, sentou-se numa clareira e fechou os olhos. Não havia precisado de sons para que sua mente compusesse uma melodia tão rica quanto qualquer música que já ouvira. Questionou-se então se sua busca não era pela música da floresta, mas pela serenidade perdida em sua vida.

Ao final da estadia, Marcelo não levou folhas gravadas, nem novas músicas compostas com sons reais, mas uma nova forma de ouvir o mundo — uma escuta atenta que transforma o silêncio em música interior.

E assim, voltou para a cidade menos com notas e ritmos, e mais com pausas e respirações, aprendendo que a natureza às vezes fala mais alto quando parece não dizer nada.