O Dia em que o Mercado Parou

Nunca imaginei que uma ida rápida ao mercado pudesse virar um dia tão estranho.

Fábio, um advogado de 34 anos, decidiu fazer compras cedo numa pequena feira do bairro. O local era simples, com barracas coloridas e vendedores que falavam com a tranquilidade de quem conhece cada cliente pelo nome.

Enquanto escolhia algumas frutas, o som das pessoas e o cheiro das ervas criavam uma atmosfera usualmente confortável. Porém, naquele momento, um anúncio inesperado soou por um alto-falante improvisado: "A energia ficará cortada por tempo indeterminado. Por favor, mantenham a calma."

De repente, a iluminação, que já era natural pela manhã, foi a única fonte de luz. Refrigeradores pararam, caixas eletrônicos também, e os clientes começaram a murmurar preocupados.

Fábio não sabia se ficava ali ou saía — pedir para voltar depois parecia inútil. Observou as pessoas ao redor; algumas riam nervosamente, outras olhavam para os vendedores, esperando instruções que não existiam.

Sem pressa e sem pressões, Fábio percebeu que as negociações continuavam, agora baseadas em conversas, sugestões e até empréstimos temporários entre conhecidos. Era um comércio antigo, pausado, quase perdido nos detalhes que o ritmo moderno esconde.

Minutos viraram horas, e o mercado transformou-se numa bolha onde o tempo parecia diferente, mais lento e mais presente. Fábio, que nunca gostou de esperar, sentiu algo mudar na maneira como vê as situações inesperadas.

Quando a energia voltou, vários risos surgiram, e as pessoas faziam piadas sobre o "apagão do século" na feira. Todos pareciam aliviados, mas ao mesmo tempo, como se não quisessem que aquele momento estranho terminasse.

Fábio deixou o mercado com suas compras, mas principalmente, com a sensação de que havia testemunhado mais do que frutas e produtos — presenciou como as pessoas se adaptam e encontram leveza no inesperado, mesmo que por um instante.