O Som da Ausência

Eu sempre ouvi o silêncio na casa desde que meu avô morreu.

A casa grande, onde cresci com meus irmãos, parecia menos cheia sem a risada dele. Mas não era só isso: havia um vazio estranho, uma falta de som que nunca entendi direito.

Uma tarde, enquanto organizava os livros na estante do escritório, encontrei uma velha fita cassete com a letra "Para a família".

Decidi escutá-la, mesmo sem saber o que esperar. A fita revelava uma gravação feita por ele, cheia de lembranças, conselhos e histórias que nunca ouvira.

Cada palavra dele parecia preencher a casa com uma presença que eu julgava perdida para sempre.

Minha irmã, Rita, entrou e ouviu também, e ficamos em silêncio, emocionadas pela voz que parecia conversar diretamente conosco.

Esse momento não resolveu a saudade nem fez o silêncio desaparecer, mas criou um espaço onde pudemos sentir que ele ainda estava perto, de um jeito diferente.

Não sei se algum dia conseguiremos substituir o que se foi, mas aquele som antigo trouxe um conforto inesperado, um elo invisível que nem o tempo consegue apagar.

Agora, a casa não parece tão vazia, porque o silêncio ganhou uma voz que só a família entende.