O Trem que Nunca Parou

Percorrer o interior do Brasil pelo trem não é apenas uma viagem, é uma experiência que desafia a percepção do tempo.

Fábio embarcou numa noite chuvosa, decidido a atravessar várias cidades sem destino certo. Seu objetivo era aproveitar a jornada para refletir sobre sua vida, fugindo da rotina acelerada da capital.

Ao longo do trajeto, o trem não fez as paradas programadas. Inicialmente, Fábio pensou que era um erro ou uma falha do sistema. Porém, sem explicações oficiais, os passageiros começaram a suspeitar que algo mais estava acontecendo.

Sem acesso à internet ou informações, ressentiram-se pela falta de controle sobre o caminho. Fábio, que buscava paz, viu sua calma testada pelo desconforto crescente dos demais.

Durante uma dessas horas no compartimento principal, uma senhora mais velha sentou-se ao seu lado. Sem rodeios, ela comentou sobre a efemeridade do tempo e como às vezes precisamos deixar que as coisas simplesmente aconteçam, sem tentar controlar demais.

Fábio, tocado pelas palavras, percebeu que o trem que "não parava" era uma metáfora da sua própria vida, que também seguia sem pausas, sem momento para contemplação.

Com o passar das horas, a viagem se tornou menos sobre o destino e mais sobre aceitar o presente, mesmo que incerto.

Quando finalmente o trem fez uma breve parada numa estação quase deserta, os passageiros desceram com pressa, mas Fábio permaneceu um instante no vagão, olhando pela janela, sentindo que essa jornada não teria um final convencional.

No fim, ele entendeu que nem todas as viagens precisam de chegada definida, algumas são feitas para permanecerem suspensas na memória e na alma.