O Jogo das Memórias no Alpendre

Quando João entrou no velho alpendre da casa de férias da família, sentiu imediatamente o cheiro das madeiras antigas e a mistura das conversas passadas.

Ele estava sozinho ali naquele fim de semana, porque seus parentes não puderam vir. Sem ninguém para conversar, decidiu olhar alguns objetos esquecidos nas prateleiras.

Foi então que encontrou um álbum de fotos com imagens em preto e branco, retratando rostos e momentos que ele mal conhecia. Enquanto folheava, percebeu detalhes que pareciam contar histórias diferentes das que ouvira na infância.

João resolveu gravar um vídeo, falando para si mesmo sobre as memórias que surgiam. Descrevia as expressões, as roupas e os lugares, imaginando as emoções por trás de cada registro.

Em certo momento, percebeu que algumas fotos mostravam acontecimentos difíceis para a família — brigas, separações, escolhas complicadas — assuntos raramente mencionados à mesa de jantar.

Ao refletir, ele sentiu uma mistura de tristeza e curiosidade: aquelas partes nunca comentadas pareciam tão importantes quanto as alegrias compartilhadas.

O silêncio do alpendre ofereceu um espaço para pensar sem pressa, sem necessidade de respostas imediatas.

No final da tarde, João desligou a câmera e guardou o álbum cuidadosamente. Talvez não fosse hora de dividir aquelas descobertas, mas ele sabia que, para entender sua própria história, precisava reconhecer todas as suas partes, mesmo as menos confortáveis.

Ele não encontrou soluções nem criou diálogos, mas ganhou um momento de respeito pelo passado complexo de sua família, um silêncio que carregava significado e convites para futuras conversas.

E assim, sob a luz que começava a diminuir, João sentiu que crescer também é aprender a viver com as memórias imperfeitas que moldam quem somos.